Quando Melanie Leupolz, meio-campista alemã do Real Madrid feminino, perguntou diretamente ao presidente Florentino Pérez durante a festa de Natal de 2024 quando o time feminino poderia jogar no Estádio Santiago Bernabéu, a resposta foi seca, direta e, para muitos, chocante: “Quando vocês ganharem seu primeiro título”. A declaração, revelada em março de 2025 no podcast alemão Kicker FE:male, não foi um comentário casual — foi uma política de estado dentro do clube. E isso não é só sobre estádios. É sobre valor, reconhecimento e o que realmente importa para quem governa o maior clube do mundo.
Um time que nunca venceu — e ainda assim é o futuro
Fundado oficialmente em julho de 2020, o Real Madrid feminino já completará cinco anos de existência. Cinco anos. E em nenhum deles conquistou um título oficial. Nem um. Nem uma taça. Nem um troféu. Apenas vice-campeão — três vezes seguidas no Campeonato Espanhol (2020/21, 2022/23 e 2023/24), sempre atrás do FC Barcelona. Em janeiro de 2025, perdeu por 5-0 na final da Supercopa da Espanha. Na Copa da Rainha, foi eliminada por 8-1 no agregado. Enquanto isso, o time masculino, comandado por Carlo Ancelotti, vive em constante glória no Bernabéu, com mais de 70 mil torcedores vibrando a cada gol. As mulheres? Jogam no Estádio Alfredo Di Stéfano, com capacidade para apenas 6.000 pessoas. Um estádio de treinamento. Um estádio de segunda classe.A diferença entre ter um estádio e ser visto
Leupolz, que chegou ao Real Madrid após quatro temporadas no Chelsea Football Club — onde venceu nove títulos — não esconde a frustração. Ela compara as condições: enquanto o Barcelona já lotou o Camp Nou em 2022 com mais de 90 mil pessoas para um jogo contra o Wolfsburg, o Real Madrid feminino ainda luta para encher o Di Stéfano. Ela conta que, em alguns jogos fora de casa, o time tem que pegar ônibus com horários apertados, sem suporte logístico adequado. “É preciso estar ciente da idade deste time e de onde estamos”, disse ela. “O sucesso muitas vezes abre portas.” E aqui está o cerne: o sucesso não é apenas resultado — é condição. O Real Madrid feminino não tem portas abertas porque ainda não venceu. Mas será que o sucesso vem antes da oportunidade, ou a oportunidade é o que gera o sucesso?O que está em jogo na Liga dos Campeões
Na temporada 2024/25, o time ocupa a segunda posição na La Liga F, a cinco pontos do líder Barcelona, com nove jogos ainda pela frente. Mas o verdadeiro terreno de batalha está na Liga dos Campeões Feminina da UEFA. Nas quartas de final, enfrentam o Arsenal Women Football Club. O jogo de ida será no Alfredo Di Stéfano, em 19 de março de 2025. O de volta, no Emirates Stadium, em Londres, em 26 de março. Se avançarem, será a primeira vez que o Real Madrid feminino chega às semifinais da competição. E isso? Isso poderia ser o primeiro passo real para mudar a narrativa. Um jogo em casa no Bernabéu? Talvez não ainda. Mas um jogo na semifinal, com 80 mil pessoas gritando? Isso poderia forçar Pérez a reconsiderar sua regra.Uma política que não é só do Real Madrid
Pérez, presidente desde 2009 (com interregno entre 2018 e 2023), sempre agiu assim: só dá o palco quando alguém prova que merece. O time masculino conquistou títulos — e ganhou o Bernabéu. O time feminino? Não. Mas isso é justo? Em 2025, com o futebol feminino crescendo em audiência, investimento e visibilidade global, essa lógica parece anacrônica. O Barcelona já entendeu: quando você dá espaço, as pessoas vêm. E quando as pessoas vêm, o dinheiro chega. Em 2022, o Camp Nou lotado gerou milhões em bilheteria e patrocínio. O Real Madrid, por sua vez, perde essa oportunidade — e não só em dinheiro, mas em imagem. O mundo vê. E o mundo está perguntando: por que o Real Madrid feminino ainda não tem o mesmo respeito?O que vem a seguir
A temporada 2025/26 será decisiva. Se o Real Madrid feminino não vencer algo até o fim de 2025, a pressão interna e externa vai explodir. A diretoria já enfrenta críticas de ex-jogadoras, torcedoras e até de clubes rivais. A própria Leupolz, uma das jogadoras mais experientes da equipe, é uma voz crítica dentro do vestiário. Ela não pede favores. Ela pede igualdade. E se o Real Madrid quer ser o maior clube do mundo — não só em títulos masculinos, mas em cultura esportiva —, então não pode mais tratar o time feminino como um anexo. É hora de mudar. Ou de explicar por que não muda.Frequently Asked Questions
Por que o Real Madrid feminino ainda não joga no Bernabéu?
O presidente Florentino Pérez condicionou o uso do Estádio Santiago Bernabéu à conquista do primeiro título oficial da equipe. Desde sua fundação em 2020, o time feminino nunca venceu um campeonato, sendo vice-campeão três vezes no Campeonato Espanhol. A política reflete a filosofia do clube de exigir conquistas antes de investir em infraestrutura, mas tem sido criticada por desconsiderar o crescimento do futebol feminino.
Como as condições do Real Madrid feminino se comparam às do Barcelona?
O Barcelona feminino já jogou no Camp Nou com público acima de 90 mil em 2022, enquanto o Real Madrid feminino disputa jogos oficiais no Estádio Alfredo Di Stéfano, com capacidade para 6 mil. O Barcelona oferece suporte logístico, transporte e estrutura profissional equivalente ao masculino. O Real Madrid ainda não iguala esses padrões, apesar de ter recursos financeiros superiores.
Quais são as chances do Real Madrid feminino vencer um título em 2025?
Com cinco pontos de desvantagem para o Barcelona na La Liga F e nove jogos restantes, as chances no campeonato são remotas. Mas a Liga dos Campeões é a grande esperança: enfrentando o Arsenal nas quartas de final, uma vitória poderia levar a equipe à semifinal pela primeira vez, aumentando a pressão por reconhecimento e, potencialmente, por acesso ao Bernabéu.
Melanie Leupolz é a única voz crítica dentro do clube?
Não. Embora ela seja a mais pública, outras jogadoras e ex-jogadoras já expressaram insatisfação com a falta de investimento, transporte inadequado e ausência de visibilidade. A equipe, liderada pela técnica Alberto Toril, busca mais apoio da diretoria, mas o silêncio institucional persiste. A pressão vem de dentro e de fora — e cresce a cada derrota.
O que aconteceria se o Real Madrid feminino vencesse a Liga dos Campeões?
Vencer a Liga dos Campeões seria o maior feito da história do clube feminino e forçaria o Real Madrid a reconsiderar sua política. A imprensa global, patrocinadores e torcedores exigiriam acesso ao Bernabéu. O clube não poderia mais justificar a desigualdade. O estádio passaria de símbolo de exclusão a símbolo de transformação — e poderia ser o início de uma nova era.
Existe pressão política ou social para mudar essa situação?
Sim. Movimentos feministas, associações de torcedoras e até políticos espanhóis já cobraram igualdade no futebol. A UEFA também pressiona clubes a investirem na categoria feminina. O Real Madrid, por sua reputação, é um alvo fácil. Ignorar a pressão pode custar mais do que um título: pode custar a legitimidade do clube como referência global.
