Jara e Kast avançam para segundo turno nas eleições chilenas em 14 de dezembro

Publicado em nov 18

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Jara e Kast avançam para segundo turno nas eleições chilenas em 14 de dezembro

Na noite de 17 de novembro de 2025, com 99,6% das urnas apuradas, os chilenos confirmaram o que os pesquisadores temiam: o país enfrentará um segundo turno presidencial entre duas forças políticas em lados opostos do espectro. Jeannette Jara, ex-ministra e candidata do Partido Comunista do Chile, liderou o primeiro turno com 26,9% dos votos. Logo atrás, José Antonio Kast, líder do Partido Republicano do Chile, conquistou 23,9% — um resultado que superou todas as previsões e sinalizou um movimento profundo na sociedade chilena. O segundo turno, marcado para 14 de dezembro de 2025Chile, decidirá quem governará o país entre 2026 e 2030. E não será apenas uma eleição. Será um julgamento político da década.

Fragmentação da direita e o poder do voto de protesto

Se Jara venceu por uma margem estreita, Kast venceu por força da desagregação da direita. Três candidatos conservadores dividiram quase metade dos votos válidos: além de Kast, Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, ficou com 13,9%, e Evelyn Mattei, do Partido Social Cristão, somou 12,7%. Juntos, eles superaram 50% dos votos — um número que, se unido, poderia ter levado qualquer um deles ao segundo turno. Mas não foi unido. E isso foi o maior presente que a esquerda poderia ter recebido. Ou o maior erro da direita.

Na prática, a fragmentação permitiu que Kast, o mais organizado e com discurso mais claro, se tornasse o único nome conservador viável. O Partido Republicano saiu do primeiro turno com 32 cadeiras no Congresso, enquanto o Partido Nacional Libertário garantiu 7 e o Social Cristão, 3. O que isso significa? Que Kast não precisa apenas vencer as urnas — precisa governar com um parlamento que já lhe dá base. E ele sabe disso.

Jara: a continuidade sob sombras

Jeannette Jara é a candidata da continuidade. Ex-líder sindical, ex-ministra da Mulher e da Igualdade de Gênero no governo de Gabriel Boric, ela tenta manter viva a agenda progressista que, nos últimos dois anos, perdeu força entre os eleitores. Sua campanha promete crescimento econômico com inclusão, mas evita confrontos diretos com o desgaste de Boric, cuja popularidade caiu para 24% em outubro — o mais baixo da história recente da esquerda chilena.

Seu maior desafio? A segurança pública. Um tema que, segundo o Nexo Jornal, é a principal preocupação de 72% dos chilenos, segundo pesquisa da Plaza Pública Cadem. Enquanto Kast promete policiamento militarizado e prisões mais rígidas, Jara fala em “prevenção social” e “investimento em juventude”. Mas para muitos, isso soa como discurso antigo. A CNN Brasil apontou que, nos últimos cinco anos, os crimes violentos aumentaram 41% nas periferias de Santiago. Ninguém tem solução simples — mas Kast tem a palavra certa para o momento.

Um modelo político em crise

Um modelo político em crise

O que aconteceu no Chile em 16 de novembro não foi apenas uma eleição. Foi o colapso de um modelo. O sistema de dois turnos, com voto obrigatório, sempre garantiu alta participação — neste ano, superou 66%. Mas a fragmentação mostra que os partidos tradicionais não conseguem mais capturar o descontentamento. O voto de protesto, antes disperso, agora se concentra em Kast. E a esquerda, que venceu em 2021 com o discurso da mudança, agora luta para não ser vista como parte do problema.

Os números são claros: o levantamento da Plaza Pública Cadem, feito em outubro, previa Jara com 30% e Kast com 22%. Os resultados oficiais inverteram essa dinâmica. Jara ficou abaixo da expectativa. Kast, acima. Isso não é erro de pesquisa. É sinal de que o eleitor mudou de ideia. E rápido.

O que está em jogo além da presidência

Se Kast vencer, o Chile poderá seguir o caminho de outros países da região: endurecimento das políticas de segurança, redução de direitos sociais e aproximação com líderes de extrema direita na América Latina — como o ex-presidente Jair Bolsonaro, citado como aliado por Gazeta do Povo. Se Jara vencer, será a primeira mulher comunista a governar o Chile. Mas também será a primeira presidenta a herdar um país com descontentamento generalizado, um Congresso fragmentado e uma economia em recuperação lenta.

Aqui está o paradoxo: o voto obrigatório garantiu legitimidade, mas também expôs a profunda divisão. O eleitor não está dividido entre esquerda e direita. Está dividido entre quem quer mudar e quem quer apenas parar de sofrer.

Os próximos 28 dias

Os próximos 28 dias

Os próximos 28 dias serão decisivos. Kast já começou a atrair votos de Kaiser e Mattei — e já tem acordos informais com líderes do Partido Social Cristão. Jara, por outro lado, tenta unir os fragmentos da esquerda: o Partido Socialista, o Frente Amplio, até mesmo setores do Partido Democrata Cristão que não querem Kast no poder. Mas a desconfiança entre os partidos é grande. E o tempo é curto.

As redes sociais já estão em guerra. Os vídeos de Kast com discursos sobre “ordem e segurança” circulam mais que os de Jara sobre “justiça social”. O que os eleitores querem ouvir? Não é ideologia. É solução. E ninguém ainda provou que tem a certa.

Frequently Asked Questions

Por que Kast superou as expectativas mesmo com a direita fragmentada?

Kast se beneficiou do voto de protesto contra o governo Boric e da desilusão com a segurança pública. Enquanto Kaiser e Mattei apresentaram propostas mais moderadas ou técnicas, Kast falou de forma direta: “ordem, lei e família”. Esse discurso ressoou em regiões onde os índices de violência cresceram mais de 50% nos últimos cinco anos, especialmente em comunas como Puente Alto e La Florida. Ele também conquistou apoio de setores da Igreja e da classe média urbana que sentem insegurança.

Como a baixa popularidade de Boric afeta a campanha de Jara?

Jara está presa a um legado que perdeu apoio popular: Boric teve 60% de aprovação em 2021, mas caiu para 24% em outubro de 2025, segundo a CEP. Muitos eleitores associam Jara à inação em segurança, à crise habitacional e à lentidão na reforma tributária. Ela tenta se distanciar, mas o rótulo persiste. Sua estratégia é focar em suas próprias propostas — como a criação de 100 mil vagas em creches públicas — mas o tempo é curto para mudar a percepção.

Qual é o impacto do voto obrigatório no resultado da eleição?

O voto obrigatório garantiu uma participação de 66%, a mais alta desde 2017, o que fortaleceu a legitimidade do resultado. Mas também amplificou o voto de protesto: muitos eleitores que não acreditam em nenhum candidato votam apenas para evitar punição. Isso beneficiou Kast, que atraiu mais eleitores de baixa escolaridade e áreas periféricas, onde a desconfiança nas instituições é maior. Jara perdeu votos entre os jovens, que se abstiveram ou votaram em candidatos menores.

O que os resultados indicam sobre o futuro da esquerda no Chile?

A esquerda chilena está em crise de identidade. Jara representa a continuidade, mas sem renovar a mensagem. A coalizão que uniu Boric em 2021 agora está fragmentada entre socialistas, comunistas e radicais. Se perder, o Partido Comunista pode perder sua influência nas próximas eleições. A alternativa seria uma nova geração de líderes — mas ninguém surgiu. A esquerda precisa escolher: reforma ou sobrevivência.

Kast pode governar com um Congresso dividido?

Sim — mas com dificuldades. O Partido Republicano tem 32 cadeiras, mas precisa de 55 para aprovar leis sem apoio externo. Ele já sinalizou que buscará alianças com o Partido Social Cristão e setores do Partido Nacional. Mas o Congresso é mais fragmentado que nunca: 12 partidos estão representados. Qualquer mudança constitucional exigirá negociação. Kast sabe disso. Por isso, sua estratégia será focar em decretos e ações executivas, evitando grandes reformas.

Há risco de instabilidade política após o segundo turno?

Se Kast vencer, há risco de protestos massivos, especialmente em regiões onde a esquerda é forte, como Valparaíso e Concepción. Se Jara vencer, a direita pode questionar a legitimidade do resultado, como ocorreu em 2021. O Tribunal Constitucional e a Corte Suprema estão preparados, mas a polarização social já é alta. A chave será a mensagem de unidade — e nenhum dos dois candidatos ainda a entregou.

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